sexta-feira, 19 de outubro de 2012

UM QUESTIONAMENTO! Opinião - O Sentido da Política: Da utopia a realidade, ou a realidade contra a utopia?




Opinião - O Sentido da Política: Da utopia a realidade, ou a realidade contra a utopia?

Thomas Morus (pode ser também, Thomas Moore, em tradução inglesa) é um santo, filósofo inglês, do século XVI, escritor de um livro interessantíssimo, chamado A Utopia, cujo enredo se passa em um lugar distante, pra ser mais exato em uma ilha, chamada Utopia (vale lembrar que Utopia é uma palavra, se não me engano, de origem grega, utopos e significa U- Ideal, sonho, e Topos-lugar). Portanto nesse lugar, ideal, Moore, imagina através de um estória, como deveria ser uma sociedade organizada, segundo as suas leis e seu governo, onde assim as pessoas poderiam melhor conviver. Fica fácil saber, como tudo o que não existe e que sonhamos, ou imaginamos, ganha o adjetivo de utópico, Aquilo que não está dado pela a realidade, imaginamos, ideal, utópico. Na verdade, tendemos a compreender e rotular que tudo aquilo que não é realizável com facilidade de utópico que ganha um significado de irrealizável, daí porque utopia passou a ser encarado como coisa, ou sonho irrealizável.

Thomas Moore em seu livro, cujo verniz literário, com personagens fictícios, é um panfleto político, uma vez que ele ataca a sociedade inglesa de seu tempo, principalmente o direito e governo, onde ele critica a adoção da pena capital como sanção justificada para manter a ordem e a figura autoritária do monarca, cometia falhas e faltas graves, mesmo na defesa da ordem social que ele julgava fazer. Sugeria, Morre, que o governante deveria ter alguns conselheiros que mesmo os súditos poderiam palpitar sobre a conduta do governante, a fim de melhorá-la. Claro, Moore, sabia como ninguém, que o processo de pensar e reformar a sociedade, não aconteceria da noite pro dia. Ele mesmo, amigo pessoal do monarca  fora perseguido por este e condenado, por criticá-lo e criticar o governo, quando discordava do seu imenso autoritarismo e arrogância, pela falta de liberdade para o pensamento, para a expressão de opiniões. Todavia, ainda assim, Moore não se omitiu diante dos infortúnios da política de seu tempo e reconheceu, em seu leito de morte, que a política também é a capacidade de fazer realizável, aquilo que ainda é irreal, dada a sua atividade criadora.

Ora, se o pobre Moore, não desfrutou de maior liberdade civil e política, os seus anseios e visões, foram suficientes para que a Inglaterra, dezenas de anos mais tarde, pusesse fim a monarquia absolutista, ao direito divino dos reis e promovesse da liberdades civis, do direito a opinião, da expressão, da religiosidade e abolisse a pena de morte, entre outras sanções repressoras e ineficazes. Tornou real, aquilo que era utópico. E assim vale pra a nossa sociedade. As garantias a que temos direito hoje não se edificaram da noite pro dia. As mulheres nem humanas eram consideradas na Grécia Antiga. No século XIX, aquelas que propunham uma legislação de amparo a direitos de gênero, foram perseguidas, presas, torturadas, mortas. Hoje quem ousa dizer que mulher deve ser mandada e é inferior ao homem? O que pode acontecer se forem agredidas e tratadas com discriminação em seleções de emprego? Foi, ou não, a custo de muita luta e de muitas vidas, que hoje as mulheres desfrutam de melhor condição social e individual? E ainda assim, está longe, do que deveria, pois apesar de tanta legislação, defesa, luta, conquistas, as mulheres ainda sofrem mais com o subemprego e com a violência sexista. Sua luta política, trouxe a utopia feminista para a realidade das políticas de gênero.

E nós, que agora disputamos e conversamos, na realidade virtual, e onde ja sabemos dos resultados das eleições últimas, fazemos e traçamos prognósticos sobre os futuros governos eleitos, que utopia carregamos? Acaso carregamos mesmo alguma? Ora tendemos a julgar e taxar infantil, ingênuo, bobo, idealista aqueles que escrevem e importunam, com idéias, "nada realistas" acerca de como deveria ser uma gestão, no que consideramos pertinente ao ideário democrático. Achamos que essas pessoas escrevem no vazio, não sabem o que é a realidade, vivem a sonhar com o melhor e mais, ainda dizem que estes não se engajam em nada, pois perdem tempo com seus sonhos e a propor algo que jamais será viável. Muitas pessoas acham que os "idealistas" ignoram a mecância existente na organização do poder. Engano. Tanto conhecem, que tanto sonham. Tanto sabem, que criticam, que questionam. E estão cansados de tanto saberem, por exemplo, que os novos gestores vão seguir com a mesma liturgia, de indicar, lotear a máquina, assediar funcionários, personalizar e não planejar as ações governamentais.

Amigos realistas, não pensem que todos os sonhadores não sabem o que se passa em uma sociedade. Não é porque eles escrevem e arriscam a pensar e propor, o que deveria ser feito, que eles ignoram o que continua a ser. Muito longe de ser um Moore, eu sei, como ele, que mudanças não acontecem de uma hora pra outra, sei como se dá a dinâmida da política, ainda mais na realidade tão brasileira que é Limoeiro do Norte. Contudo já aprendi com Moore, que insistindo com as mesmas práticas, o mesmo comportamento, do gestor, do eleitor, do vereador, de todos nós, não haverá mudança. Mesmo Maquiavel, que tanto escreveu sobre os bastidores do poder, tão objetivo como se fala, preferiu omitir suas convicções republicanas, para melhor escrever e descrever a realidade dos principados e a figura do governante. Mas Maquiavel não aceitava aquilo, ele não era maquiavélico. Como bem, comentou Roussau sobre o filósofo italiano: "Maquiavel fingindo dar lições aos príncipes, deu grandes lições ao povo, que agora pode saber como age o governante somente preocuapdo com o poder e tão só contigo"

Portanto, ousemos, além dos esquemas reais, não nos resignemos a pensar política somente com o que já é, com os esquemas já pensados e repetidos, como os únicos possíveis. Não há mudança nisso. Não julguem o inconformado, o utópico, como alguem indiferente, ou um ignorante diante do real, Ele, assim como todos nós, também sabe o que a realidade é, por isso que a desafia. O sentido da política parte daquilo que não é, e é bom, para aquilo que é, e que não é, não é eficaz. Todos nós sabemos o que é o melhor. Se não sabemos, ao menos percebemos que repetir a mesma fórmula, e recusar a utopia, e portanto recusar real melhora. Ignorar uma idéia, ou opinião tãão contrária a realidade existente é ignorar uma propositura, ou até mesmo alternativa de mudança. Salvemos a política, assumamos seu caráter de arte como bem Platão identificou a milênios, paremos de "celebrar a estupidez humana" como alertou Renato Russo. Vamos recomeçar, fazer da Política sempre a promessa da perfeição.

Atenciosamente,

Ângelo Felipe Castro Varela

Professor do curso de Ciências Sociais da UVA, natural de Limoeiro do Norte, escreve um depoimento belíssimo que nos deixa questionando se a utopia é considerada valida dentro da realidade em termos de política.
 

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