segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Candidatura natural não existe



Na política, nada é por acaso, fortuito ou mera coincidência. Como principal atividade humana no âmbito da coletividade, sucessos e fracassos eleitorais são construídos, no dia-a-dia, sob as rígidas leis da causa e efeito. Acontecem a partir de um imensurável número de variáveis que, como a própria palavra diz, são incontroláveis. O que cabe ao personagem político é atuar para que a soma de seus acertos e méritos supere seus erros e defeitos. Conseguindo isso, será vitorioso. Se não, vai para o limbo. Isso vale para qualquer figura política. Da mais ilustre, que a história consagrou, à mais insignificante. Em lugar e tempo algum, com exceção dos regimes de herança direta de tronos, pela via da consanguinidade, houve candidatura natural a mandato eletivo. A democracia não funciona assim. No máximo, há a confluência de fatores que, bem conduzidos, podem render bons resultados.

Vejamos três casos dos mais recentes. Luiz Inácio Lula da Silva, antes de se tornar um expoente internacional de sucesso como presidente do Brasil, disputou, em 2002, as prévias no PT com o senador Eduardo Suplicy (SP); em 2004, Luizianne Lins passava longe de ser um nome de consenso dentro do PT. Não por isso ela deixou de enfrentar todos os obstáculos para ter o direito de concorrer e vencer a corrida pela Prefeitura de Fortaleza. Fora do petismo, o grupo liderado pelos Ferreira Gomes, a exemplo dos anteriores, não chegou lá “naturalmente”.

Em todos os processos, foi preciso muito empenho pessoal e circunstâncias eleitorais favoráveis, alinhados a uma série de outros fatores. Todos eles, Lula, Luizianne e Cid, antes de eleitos, tiveram de conquistar o direito de ser candidatos. Candidatura natural não existe, ao contrário do que chegou a avaliar o senador Eunício Oliveira (PMDB), sobre as pretensões dele em relação à sucessão estadual de 2014.

O QUE ESTÁ NO HORIZONTE DE 2014

Como dito acima, o processo de construção de uma candidatura possui muitas variáveis. No caso das que disputarão a sucessão do governador Cid Gomes (PSB), a primeira delas é o tempo. Por um lado, há o processo eleitoral concluído há poucos dias. Pelo resultado, já dá para se projetar quem saiu com cacife e quem foi fragilizado pelas urnas. Mas o mapa municipal redesenhado, em si, não é suficiente para se prognosticar cenários e candidatos. Ainda haverá muito sobe-e-desce até la. Os novos prefeitos sequer tomaram posse. E se um deles emplacar uma marca forte nos primeiros dois anos de mandato, o suficiente para se viabilizar como nome possível? No ano eleitoral, teremos uma Copa do Mundo que, dependendo do resultado, dentro e fora de campo, poderá catapultar muita gente para a vitória; o PT, que deverá lançar a presidente Dilma Rousseff à reeleição, vai querer muito mais do que um palanque no Ceará; se for mantida a aliança PSB-PT no âmbito estadual, como querem Cid e Dilma, haverá espaço para um candidato a governador fora desses dois grupos políticos? O ministro dos Portos, Leônidas Cristino (PSB), não é uma carta fora do baralho.

O Brasil, assim como o mundo inteiro, atravessa momentos de apreensão na economia. Nem é preciso lembrar o que uma crise financeira é capaz de fazer em um governo, eleitoralmente falando; Por último, para fechar a lista dos pontos mais óbvios, ainda existe o fator escândalo, que nos últimos anos tem transformado em inquérito policial muitas carreiras políticas tidas como promissoras.

A ARMADILHA DO RÉVEILLON

Por razões ainda pouco esclarecidas, a Prefeitura de Fortaleza deixou que a festa do Réveillon na Praia de Iracema ficasse sob o risco do atropelo. Não há nada que indique que houve má vontade da gestão Luizianne Lins para com o grande evento. Nem que isso tenha relação direta com a derrota eleitoral. Mas é uma incógnita o fato de no apagar das luzes do governo e com tanta experiência de anos anteriores, a cidade que se tornou referência nacional nesse tipo de show deixe em apreensão não só o trade turístico, como também todos aqueles que têm na virada de ano a chance única de assistir, ao vivo, a um grande artista. O episódio está produzindo a seguinte situação: a gestão do PT terá de fazer a melhor das festas dos últimos anos, com o menor tempo hábil. Qualquer detalhe menos do que isso, um probleminha que seja, poderá ser associado ao contexto eleitoral. No apagar das luzes, a gestão petista conseguiu criar uma armadilha para si mesma.


MERCADO É MERCADO

Quem lida, cotidianamente, no poder público, sabe que contratos com o setor privado são os mais draconianos. Costumam bater qualquer expectativa em relação a preços. Nas razões disso, são citados problemas de várias ordens. Entre eles, questões como prazos jurídicos no andamento de licitações e dificuldades e atrasos nos pagamentos. São as regras do mercado. No setor cultural, âmbito no qual se dará a festa do Réveillon, não será diferente. Com as atrações dignas desse rótulo já contratadas por aí, de duas, uma: ou teremos artistas abaixo do razoável ou pagaremos os olhos da cara para compensar quebra de contratos de alguém já compromissado com outro contratante.

Fonte: O povo Online

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