segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Por que esta será a mais dura de todas as batalhas


O PT e o PSDB se enfrentaram em seis das sete eleições presidenciais pós-ditadura. Em 1994 e em 1998, os tucanos derrotaram facilmente os petistas, ganhando no primeiro turno. Em 2002, 2006 e 2010 houve segundo turno mas o PT largou com boa dianteira e venceu com folga. Agora os dois exércitos vão se enfrentar com força eleitoral equilibrada e nas condições políticas mais adversas para o petismo.

Já começou o que será uma das disputas mais tenazes e agressivas entre os dois partidos polares do sistema político brasileiro, depois de uma virada espetacular do candidato Aécio Neves. Ele ocorreu graças à desconstrução de Marina Silva, em que ele somou forças com o PT, e à sua tenacidade pessoal, que não o deixou esmorecer mesmo quando foi dado como carta fora do baralho e abandonado por aliados. Se Aécio fez um discurso light ao falar do resultado, acenando para os potenciais aliados, Dilma deu o tom da refrega, admitindo mudanças e “ideias novas” embusca dos que, mesmo no campo da esquerda, optaram pela alternância votando na oposição – seja em Marina, Aécio ou mesmo em Luciana Genro, que alcançou surpreendentes l,6% de votos.

Na nova disputa, com tempo igual de televisão, Dilma e Aécio têm imensos desafios pela frente na busca da maior fatia de apoio dos 24,8% de eleitores que não votaram em nenhum deles, dividindo-se entre Marina, outros candidatos, brancos e nulos, sem contar os 20% que se abstiveram.    À luz do resultado, não basta a Aécio conquistar os 59% dos eleitores de Marina que se dispunham a votar nele no segundo turno, nem a Dilma herdar os 24% de marinistas que estavam dispostos a optar por ela. Terão que ir além.

As pedras no caminho de cada um.

A maior barreira no caminho de Dilma é São Paulo, que deu ao tucano 45% de votos, contribuindo decisivamente para sua votação final. Afora o anti-petismo natural dos paulistas, que também detestavam Getúlio e Brizola, ali o PSDB tem sua maior fortaleza, um governador reeleito por maioria expressiva, um senador vitorioso e as forças do mercado que já se congregam para a batalha anti-Dilma. Como este é um paredão de rocha firme, ela precisará manter a dianteira conquistada em Minas, unificar suas forças no Rio e avançar ainda mais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, desfavoráveis ao tucano.

As delações premiadas que estão sendo feitas e cuspindo acusações contra envolvidos no escândalo da Petrobrás alimentarão o discurso anti-corrupção do tucano. “Dilma vai debater corrupção com Aécio”, avisou Lula, insinuando que teremos troca de chumbo nesta área.

A derrota de Aécio em Minas – tanto na escolha do governador como na votação para presidente – abriu um flanco em seu próprio discurso, o de que seu governo em Minas, amplamente apoiado pelos mineiros, seria a prova de sua capacidade de governar o Brasil com “eficiência e decência”.  Seu maior desafio é reconquistar os votos que perdeu em Minas, apotando que eles viriam por gravidade, manter a cabeça de ponte paulista e tentar avançar no resto do país.

A corrupção e a ineficiência estarão no centro do discurso do tucano mas ele será forçado a discutir os temas que o PT colocará na agenda, reverberando que a volta do PSDB representará o fim da ênfase no combate à pobreza e no compromisso com os mais pobres.

Mas a aritmética e o discurso não decidirão uma disputa que envolverá fatores intangíveis, tanto da alma do eleitorado como das forças com real poder decisório no pais, como a mídia, o mercado financeiro, o capital produtivo que financia as campanhas e as forças políticas que agora vão se realinhar.

Não há dúvida de que o PSB fatalmente rachará na escolha do caminho a seguir em busca da sobrevivência sem Campos. Ainda que ela fique neutra, ainda que aponte o apoio a Aécio, os socialistas não marcharão unidos, com uma fração refluindo para a velha aliança com o PT.

Dilma terá que recompor-se com aliados magoados, especialmente os do PMDB que se atritaram com o PT, como a família Sarney no Maranhão. O segundo turno pode ser a hora da vingança para muitos desafetos de Dilma e do PT. Aqui entra Lula. Ninguém melhor do que ele poderá tentar recompor a aliança que o sustentou e garantiu a eleição de Dilma em 2010, quando ela era um poste. Esta aliança, ao longo do governo dela, esgarçou-se e isso contribuiu para que ela tivesse a menor votação do PT nas disputas presidenciais.

Tereza Cruvinel, colunista do portal Brasil 247. 

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